Como professora e pesquisadora da história do teatro brasileiro, eu poderia começar dizendo que Maria Clara Machado ainda não teve sua importância devidamente reconhecida. Apesar das inúmeras montagens de suas peças, não há estudos que analisem em profundidade seu papel revolucionário no teatro brasileiro. A exceção a este panorama é o número especial sobre o Tablado da Revista Dionysos, editada em 1986 pelo SNT. Além de reunir um amplo material documental (entrevistas, depoimentos, fotografias, fichas técnicas e críticas de espetáculos) conta com um belíssimo texto de Flora Sussekind, que, ao traçar o percurso profissional de Maria Clara - de atriz a dramaturga - mostra como esta manipula o tempo em seus textos, substituindo as lições de moral do incipiente teatro infantil de sua época por situações inusitadas e que demolem padrões estabelecidos.
Mas, aqui, gostaria de falar de Maria Clara Machado em termos pessoais e afetivos. Moradora, quando criança, da Ilha do Governador (bairro do Rio muito, muito longe da Gávea, onde se localiza o Tablado), eu era levada a cada espetáculo do Tablado por minha mãe, fã incondicional de Clara; esta, que estava sempre perto do público, honrava a família com o epíteto de “Os Reis da Ilha” cada vez que nos via chegar. Mais tarde, morando perto, minhas duas irmãs e também minha mãe fizeram cursos com Maria Clara, e das aulas que assisti, minha maior lembrança é das gargalhadas provocadas pela verdadeira comediante que era aquela professora tão especial. Em seguida, minha irmã Alice permaneceu entre 1971 e 1974 como “agregada” no Tablado, operando som ou vendendo livros antes dos espetáculos. Acompanhando-a sempre, vivi um período maravilhoso, assistindo incontáveis vezes a O boi e o burro a caminho de Belém, A menina e o vento, Um tango argentino, e principalmente O embarque de Noé, meu recorde, que assisti 16 vezes.
Assim como na década de 70 eu não me cansava de assistir às peças do Tablado, em 2009 minha filha de seis anos também não se cansa de ir aos ensaios de Pluft, texto de 1956. O permanente fascínio provocado pelo mundo criado por Maria Clara Machado confirma a afirmação de Flora Sussekind: essa grande autora, com sua obra lúdica e atemporal, soube como poucos brincar com o tempo. A mim, particularmente, Pluft tem possibilitado uma viagem afetiva muito especial¸ em que as memórias de criança têm se entrelaçado com as alegrias do presente.
Ângela Reis
Prof. Ângela Reis- Mãe Fantasma
Na verdade, a peça do pluft é de Setembro de 1955 e não de 1956.
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